Entre a aceleração, as interdependências dos centros urbanos e a poluição sonora, visual, que tudo isso produz, Mario Baptista consegue em suas imagens trazer uma certa ordem sensível ao caos das cidades. Pelos afetos e pela estética, ele nos ajuda a percorrer esses espaços ora hostil, ora envolvente, restabelecendo uma possível conexão com a urbe, suas estruturas e sua gente.
Como herdeiros dessa cultura urbanizada, em que o retrocesso a um estado mais natural, anterior, pode ser difícil e até mesmo absurdo, precisamos encontrar alternativas. “Imaginários urbanos” é esse conjunto de sentimentos, desejos e fantasias do inesperado que, para o filósofo e escritor Armando Silva, se tornou um método de leitura e análise das expressões nas metrópoles, e, para Mario, sua própria manifestação artística. As “cidades físicas”, na palavras de Armando, compartilham de seus espaços reais e concretos combinados a uma porção de impalpável, plenos de sentidos plurais, que levam a outras vivências temporais, de um “urbanismo sem cidade”. E na vivência de Mario, levam a imagens que são percurso e não destino.
No seu perambular por rotas periféricas ou ainda no perder-se, as fotos emergem da surpresa, como também de seu experiente “enxergar em enquadramento” na composição de cenas, das quais emergem lugares, recordações ou memórias inventadas. Cidades que repelem e abraçam, Mario pode conceber uma imagem da irreverência das pessoas do lugar, de ângulos arquitetônicos que redefinem os contornos naturais ou, ainda, de dimensões históricas. Por meio de pistas, de símbolos reconhecíveis ou curiosos, o fotógrafo transpassa geografias e nos transporta para espaços, tempos, de realidades materiais ou afetivas, factuais ou imaginadas.
Referência: SILVA, Armando. Imaginários urbanos. São Paulo: Editora Perspectiva S.A., 2011.
