Paisagens mediadas

Se os olhos são considerados as “janelas da alma”, as janelas muitas vezes se convertem em “órgãos fundamentais”, como olhos, pulmão, pele, e por meio delas podemos ver, respirar, ouvir e também sentir. Essas linhas horizontais e verticais se tornam referências formais que enquadram a natureza, a realidade, a cena observada ou sentida, lhes conferindo estatuto de paisagem, percebida então como imagem. 

Os enquadramentos nessa coleção de instantâneos da vida cotidiana produzidos por Mario Baptista se combinam ao das molduras dos tais “olhos da arquitetura”, deixando algo para ser visto e um tanto para ser imaginado. Por essas “pequenas portas” cheias de ambiguidades circulam olhares, desejos, novos ares, luzes que transcendem o espaço observado ou de alguma forma inventado pelo fotógrafo em realidades multiplicadas.

Nessa relação fotografia, arquitetura e o humano, por um lado, Mario invoca a percepção consciente das antíteses do ordinário, do dia e da noite, do íntimo e do público, da solidão e do partilhar, do descuido e da proteção, e da liberdade e da restrição. E, por outro, paradoxalmente, emoldura a condição humana entre realidade e representação, revelando as possibilidades de ampliar os limites e de construir novos sentidos.