Diálogos… e o que vem depois?
“...encontrar essa sutil ironia provoca a reflexão de como, muitas vezes, somos reféns de nós mesmos...” Mario Baptista
Fotografias que se abrem a interpretações distópicas ou utópicas, que trazem o sublime, a sutileza, a ironia de um instante ou a ficção da realidade contemporânea. Cenas que de tão absurdas parecem um tanto ficcionais, ou de tão ordinárias nos fazem questionar a realidade, confundem o nosso discernimento mas das quais algo pode ser apreendido para imaginar outras perspectivas possíveis. Imagens como interstícios de um todo, fragmentos de um presente incerto, de projeções duvidosas. Mário Batista parece se colocar como um contador dessa história, ou melhor, histórias.
Narrativas e imagens de tempos pós-modernos, que encontram eco no questionamento do historiador e crítico de arte
Hal Foster, presente no título de seu livro “O que vem depois da farsa?”. A farsa como um momento intermediário, interregno de antigas e novas ordens, ou mero interlúdio, sugerindo que outro tempo chegará. Diferente? Melhor ou pior, a pergunta segue em suspensão, mas Foster busca trazer em sua crítica um certo “brilho utópico da ficção”, uma possibilidade de mudança estrutural, de se pressionar as brechas do status quo, de resistência ao poder, ou quem sabe ainda de sua reelaboração.
Enquanto Mario traz pela própria arte as expressões sintomáticas dessa realidade, as críticas a esse modus operandi, cujas cenas colocadas em diálogos neste ensaio reforçam as incertezas. Conversas que emergem de vários recursos visuais e do olhar atento do próprio fotógrafo, numa estética que prioriza um conteúdo contundente de ideais de progresso e em meio ao descaso social, de um imaginário homogenizado, de escritas e detalhes que revelam rastros de vida ou de desencanto, e de frestas e focos de luz em contextos sombrios… dos quais persistem, de toda forma, a dúvida e as imagens.
Referência: FOSTER, Hal. O que vem depois da farsa?. São Pulo: Ubu Editora, 2021